Eu poderia responder essa pergunta com a frase do amigo Daniel Brito “eu sou uma farsa”. A afirmativa é hoje reproduzida por mim e por Jurani Clementino, um outro amigo que andou as voltas com os encantos do Rio de Janeiro até o final do ano.
Quando escreveu o post que leva o título da frase, DB tentou mostrar que no fundo todos nós temos um pouco de farsantes. Mesmo dizendo não entender de filosofia, o autor do post disse alguma coisa que está no Discurso sobre as Ciências e as Artes de Jean- Jacques Rousseau de 1750:
“Atualmente, quando buscas mais sutis e um gosto mais fino reduziram a princípios a arte de agradar, reina entre nossos costumes uma uniformidade desprezível e enganosa, e parece que todos os espíritos se fundiram num mesmo molde: incessantemente a polidez impõe, o decoro ordena; incessantemente seguem-se os usos e nunca o próprio gênio. Não se ousa mais parecer tal como é e, sob tal coerção perpétua, os homens que formam o rebanho chamado sociedade nas mesmas circunstâncias, farão todos as mesmas coisas desde que motivos mais poderosos não os desviem. Nunca se saberá, pois, com quem se trata: será preciso, portanto, para conhecer o amigo, esperar pelas grandes ocasiões, isto é, esperar que não haja mais tempo para tanto, porquanto para essas ocasiões é que teria sido essencial conhecê-lo.”
A referência a um grande pensador como Rousseau foi proposital. Quem está lendo este texto pode ter pensado que eu sou um grande conhecedor da obra dele. Não é verdade. O “Discurso” foi o único que li. Quis mostrar com isso que, dependendo de quem e em que nível nos conhecem as pessoas terão impressões (imagens) diferentes a nosso respeito.
Para meus ex-alunos tenho uma imagem de sério e porque não dizer por vezes chato. Quando me conhecem melhor mudam de opinião. Já ouvi alguns deles que trabalharam comigo dizerem que não imaginavam que eu era um sujeito brincalhão e perturbador (no bom sentido) do ambiente redacional. Verdade que eu gosto mesmo de tirar onda com os colegas, mas isso ocorre no dia a dia com as pessoas mais próximas.
Escrever sobre as impressões que as pessoas têm de nós não foi só para atualizar o blog depois de dois anos. A motivação surgiu depois do encontro com uma ex-professora da minha época dos extintos primário e ginásio no Colégio Santa Bernadete.
Pois bem, estávamos eu e minha mulher na repartição pública. A professora – hoje funcionária do local – apresentou-me aos colegas como seu ex-aluno e um grande poeta, referiu-se que eu fazia belas poesias.
Minha mulher olhou pra mim como que diz não conhecer esse meu lado. A verdade é que nem eu me lembrava que em algum dia da minha escrevi versos poéticos. Provavelmente quis impressionar as meninas que paquerava. Minha sorte é que a professora não pediu pra recitar alguma poesia. Certamente teria dito “batatinha quando nasce...”
Passei dias intrigado com o fato de meu lado poeta ter morrido ou pelo menos ter adormecido. Fiquei ainda mais atordoado quando um professor atual perguntou-me o que matou o poeta dentro de mim. Não sei. Isso é assunto para outro post, espero.
Comecei a lembrar de outras impressões que tiveram de mim. Um cara que jogou comigo no extinto Bayern do Monte Santo disse ao meu amigo Nir que eu tinha sido o melhor atacante que ele havia jogador junto. O companheiro de ataque só jogou uma vez comigo. Talvez neste dia tudo tenha dado certo no futebol. Se ele tivesse jogado mais alguns domingos teria percebido que o jogador daquele dia era uma farsa.
E foi em outra farsa dessas que depois de uma partida pelo time da imprensa onde desandei a fazer gols fui chamado para jogar no melhor time amador de Campina Grande. Não fui. Até porque uma farsa dessas tinha me levado a outro time, onde não fiz nada e o cara que me levou recebeu inúmeras críticas.
E não é que um dia de farsa no futebol me levou a treinar no Campinense. Passei pouco tempo no velho Plínio Lemos. Fiz testes e como era de se esperar meu nome não estava na lista dos que deveriam continuar. Acabava o sonho de ser jogador de futebol.
Os exemplos do futebol deixam claras opiniões diferentes sobre a mesma pessoa. Para quem apostou na minha parca habilidade com a bola eu era um grande jogador. Para os outros que me reprovaram eu poderia seguir qualquer caminho, menos o da bola. Não sei se teria sido jogador de futebol, mas a verdade é que não tentei muito. Decidi estudar e não me frustrei por isso.
Dependendo da situação, do ambiente, assumimos posturas diferentes. Todos temos um pouco de farsantes. Como já disse aqui neste humilde espaço não dá pra ser super sincero. Vivemos numa sociedade que exige determinadas atitudes nossas. É o que Durkhein chamou no século XVIII de coerção social e que Bourdieu traduziu dois séculos depois como violência simbólica.
Quem sou eu?
Depende da ocasião.
sexta-feira, 21 de janeiro de 2011
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4 comentários:
kkkkkk
Muito bom..
Faltou apenas Bauman com o seu conceito de identidades liquidas.
kkk
É, as pessoas têm as mais diversas (falsas) impressões de nós, mas acho que devido a mania de pré-julgar os outros por um momento, um status, uma função. Isso não é culpa nossa, mas de quem faz julgamento sem um pouco mais de tempo pra conhecer e emitir uma opinião, somos o que somos em momentos diferentes. Na empresa talvez se precise ser sisudo,
austero. Em casa, amável e compreensivo. Com os amigos, brincalhão, descontraído. A vida moderna pede isso, porém acho grave-gravíssimo-não ser visto exatamente como se é pelos nossos entes queridos. Tem homem que não sabe qual a cor favorita da esposa, nem o prato predileto.Isso acho grave, o resto é resto. Conselho: surpreenda sua esposa com o poeta que é...;) Bj, Leozinho.
T
tenho um amigo que pensa que eu sou bom de bola ate hoje, pq batemos uma pelada com um time ruim para caramba, e ele acreditou na minha habilidade.
agora voce joga bola bem. inclusive, ate calou os criticos ao fazer um gol e sair de campo, ja sem a camisa do time do Monte Santo, emburrado...
hehe
valeu pela citação!
Farsante é muito forte. Eu diria q nesses episódios q narrou, vc sem saber colocou seu marketing pessoal para funcionar. Eu não canso de ver as pessoas se vendendo com o uso do marketing pessoal e um currículo mais ou menos. Pense nisso.
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