domingo, 4 de maio de 2008

Velórios

Honório não gostava de ir a velórios. Evitava ao máximo. Quando sabia que o familiar de um amigo tinha morrido desligava o celular, se escondia. Depois do enterro aparecia com uma desculpa.

- Infelizmente tive uns problemas é só fiquei sabendo hoje que sua irmã morreu. Nem tive como ir ao velório nem ao enterro. Meus pêsames.

Dessa vez não tinha jeito. Não dava pra se esconder. A mãe de Bartolomeu havia morrido.

Honório e Bartolomeu eram amigos de infância. Sabiam tudo sobre a vida um do outro. Primeira namorada, primeiro porre, primeira transa. Choravam juntos e bebiam quando um dos dois era dispensado por uma garota.

Bartolomeu não era qualquer um. Não podia deixá-lo só naquele momento.

A primeira dúvida de Honório era que roupa usar. Não tinha roupa preta porque eram desnecessárias. Nunca ia a velório mesmo. O pior era que o guarda-roupa estava cheio de camisas estampadas, estilo moda havaiana.

Mas o velório da mãe de Bartolomeu merecia comprar uma camisa preta. A calça podia ser jeans mesmo.

Problema da roupa resolvido agora era preciso pensar no que dizer ao chegar ao velório. Foi todo o caminho pensando no que falar.

- Oi tudo bem?

Não...Não. Nada podia estar bem.

Esse cumprimento estava descartado.

- Olá.

Também não. É muito seco. Impessoal demais para um grande amigo.

- Diz.

Muito pior.

- Como você está?

Pergunta imbecil. Ninguém vai responder que está bem depois de perder a mãe.

Bartolomeu, os irmãos e o pai estão em volta do caixão. Honório chega ao velório. Não diz nada. Balança apenas a cabeça para cumprimentar as pessoas.

Bartô levanta-se e o abraça chorando.

- Meu amigo estou sofrendo muito. A gente sabia que mainha tinha 99 anos. Mas esperava ela viver mais uns dez pelo menos.

Honório não tinha pensando no que dizer. Pra quem não freqüenta velório é preciso pensar em tudo antes.

Ele pensou rápido. Em segundos pensou em pelo menos três frases.

- Meus pêsames.

Não. Todo mundo diz isso.

- Bartô morrer faz parte da vida.

Horrível. Imaginou se fosse sua mãe.

- Ela passou dessa pra uma melhor.

Também não. Era arriscado ouvir: “eu queria que ela estivesse numa pior perto da gente”.

Finalmente a frase certa.

- Nada que eu disser aqui vai te confortar.

E ficou calado o resto da tarde. Como iria viajar a trabalho no dia seguinte, e Bartô sabia disso, não iria ao enterro.

À noite, depois de tomar um cafezinho decidiu ir embora. Por dentro estava alegre porque tinha enfrentado bem a situação. Não tinha cometido nenhuma gafe.

- Bartô, estou indo embora. Você sabe que amanhã viajo logo cedo.

- Eu sei. Brigado por tudo amigão.

- Que iiiisssoooo. Não poderia deixar de vir.

- Foi importante pra mim sua presença.

- Então...até a próxima.