Ninguém toca no assunto. A não ser com as pessoas mais íntimas. Íntimas mesmo. Falar sobre o ato solene de ir ao banheiro é algo desconfortável. Aqui não sei se trato do assunto com o popular “cagar”, ou o infantil “fazer cocô” ou o técnico “defecar”. Qualquer uma das três expressões não diminuirá o constragimento para quem se aventurar a ler este post até o fim.
A verdade é que por mais que imaginemos ser o único a defecar (talvez esse seja o motivo de nossa vergonha) não somos. Quase nunca (ou nunca mesmo) pensamos em Angelina Jolie, Sandra Bullock, Gisele Bündchen ou Juliana Paes sentada numa privada. Mas elas sentam. E fazem o mesmo que eu e você. Também acontece com Robert Pattinson, Brad Pitt, Rick Martin e Reinaldo Gianecchini. A beleza dos famosos não os impede de ‘sentar no trono’.
Antes de continuar é preciso relatar o que encontrei sobre defecar. Diz a definição técnica que “é o ato de evacuar fezes do organismo através do relaxamento do esfíncter e contrações do reto anal. A utilidade da defecação é fácil de ser compreendida: ela é necessária para a eliminação do material sólido não absorvido pelo organismo. Frequentemente, o ato de defecação é inibido por razões de ordem social”.
Desse jeito fica mais ameno. Até porque não dá pra entender muita coisa.
Ainda sobre o ato diz-se que “ocorre normalmente no homem uma a duas vezes em 24 horas. É comum uma grande variação nos hábitos intestinais, principalmente quando se analisam indivíduos de diferentes nacionalidades e submetidos a vários tipos de condicionamento”.
A definição técnica sobre a vontade (tecnicamente chamada de reflexo) diz que “a defecação é iniciada por reflexos (reflexo intrínseco e reflexo parassimpático). O enchimento das porções finais do intestino grosso estimula terminações nervosas presentes em sua parede através de sua distenção. Impulsos nervosos são, então, em intensidade e freqüência cada vez maior, dirigidos a um segmento da medula espinhal (sacral) e acabam por desencadear uma importante resposta motora que vai provocar um aumento significativo e intenso nas ondas peristálticas por todo o intestino grosso, ao mesmo tempo em que ocorre um relaxamento no esfíncter interno do ânus”.
Tudo isso que está entre as aspas Zé Lezim definiria como uma frieza no espinhaço em pleno calor de 40 graus de Teresina Piauí.
A frequência (um amigo me revelou que sofre de prisão de ventre) e o tempo de cagada depende de cada indíviduo. Alguns passam 5, 10, 15 minutos. Alguns exageram chegando até 45 minutos ou mais. Excetua-se os casos de desarranjos intestinais (a popular caganeira) que quanto mais rápido, melhor.
Há vários anos eu e meu amigo de infância Nir nos questionamos quanto tempo havíamos gastado até aquela data com cagadas. Realmente era coisa de quem não tinha o que conversar depois de algumas doses de Bacardi Limon com gelo e soda. Ainda era adepto desta bebida, os amigos mais recentes desconheciam esse hábito.
Pra conta ficar simples arredondamos para um tempo médio de 10 minutos de cagada. Consideramos apenas uma por dia. Como são 365 ao ano (intestino não tem feriado) gastaríamos 3650 minutos, o que corresponde a em média 6 horas/ano. Levamos em conta 25 anos, período que acreditavámos ter mais consciência do que estávamos fazendo. Já perceberam que criança caga rápido pra voltar a brincar?.
Dessa forma havíamos gastado 150 horas da nossa vida no banheiro. É pouco tempo. Pouco mais de seis dias se observamos o dia com 24 horas. Porém quase ninguém caga dormindo. Os bêbados fazem parte deste quase. O dia do cagador tem em média - considerando 8 horas de sono - 16 horas. Assim destinamos quase dez dias da nossa vida a fazer merda, ou melhor, colocá-la pra fora.
Para não perder tempo (nesse caso tempo não é ouro, é merda mesmo) muita gente faz outra atividade durante a defecação. Ouve música, ler jornal, revista ou um livro. É a forma de aproveitar bem o tempo no banheiro.
Outras pessoas preferem apenas a aproveitar o momento. Conheço alguns que é no vaso sanitário que fazem planos, pensam na vida. Sobre o fato de pensar sentado no ‘trono’ acho “coincidência” uma das mais famosas esculturas do francês Rodin, O Pensador, lembrar o ato de defecar.
Essa comparação nada mais é que fruto do meu analfabetismo artístico. Segundo pesquisa O Pensador “retrata um homem em meditação soberba, lutando com uma poderosa força interna (até essa definição lembra o ato de defecar. A força interna do intestino. Parentese meu). Originalmente chamado de O Poeta, a peça era parte de uma comissão do Museu de Arte Decorativa em Paris para criar um portal monumental baseada na Divina Comédia, de Dante Alighieri. Cada uma das estátuas na peça representava um dos personagens principais do poema épico. O Pensador originalmente procurava retratar Dante em frente dos Portões do Inferno, ponderando seu grande poema. A escultura está nua porque Rodin queria uma figura heroica à la Michelangelo para representar o pensamento assim como a poesia”.
Alguém que se arriscou a chegar até aqui deve estar curioso sobre o que faço na hora do ato solene da cagada. Como disse no início o assunto é desconfortável e constrangedor. Por isso, prefiro não revelar.
segunda-feira, 31 de janeiro de 2011
segunda-feira, 24 de janeiro de 2011
Frase da semana
"Eu bebo pouco, mas o pouco que bebo me transforma em outra pessoa, e essa outra pessoa sim, bebe pra caramba". (Anônimo)
sexta-feira, 21 de janeiro de 2011
Quem sou eu?
Eu poderia responder essa pergunta com a frase do amigo Daniel Brito “eu sou uma farsa”. A afirmativa é hoje reproduzida por mim e por Jurani Clementino, um outro amigo que andou as voltas com os encantos do Rio de Janeiro até o final do ano.
Quando escreveu o post que leva o título da frase, DB tentou mostrar que no fundo todos nós temos um pouco de farsantes. Mesmo dizendo não entender de filosofia, o autor do post disse alguma coisa que está no Discurso sobre as Ciências e as Artes de Jean- Jacques Rousseau de 1750:
“Atualmente, quando buscas mais sutis e um gosto mais fino reduziram a princípios a arte de agradar, reina entre nossos costumes uma uniformidade desprezível e enganosa, e parece que todos os espíritos se fundiram num mesmo molde: incessantemente a polidez impõe, o decoro ordena; incessantemente seguem-se os usos e nunca o próprio gênio. Não se ousa mais parecer tal como é e, sob tal coerção perpétua, os homens que formam o rebanho chamado sociedade nas mesmas circunstâncias, farão todos as mesmas coisas desde que motivos mais poderosos não os desviem. Nunca se saberá, pois, com quem se trata: será preciso, portanto, para conhecer o amigo, esperar pelas grandes ocasiões, isto é, esperar que não haja mais tempo para tanto, porquanto para essas ocasiões é que teria sido essencial conhecê-lo.”
A referência a um grande pensador como Rousseau foi proposital. Quem está lendo este texto pode ter pensado que eu sou um grande conhecedor da obra dele. Não é verdade. O “Discurso” foi o único que li. Quis mostrar com isso que, dependendo de quem e em que nível nos conhecem as pessoas terão impressões (imagens) diferentes a nosso respeito.
Para meus ex-alunos tenho uma imagem de sério e porque não dizer por vezes chato. Quando me conhecem melhor mudam de opinião. Já ouvi alguns deles que trabalharam comigo dizerem que não imaginavam que eu era um sujeito brincalhão e perturbador (no bom sentido) do ambiente redacional. Verdade que eu gosto mesmo de tirar onda com os colegas, mas isso ocorre no dia a dia com as pessoas mais próximas.
Escrever sobre as impressões que as pessoas têm de nós não foi só para atualizar o blog depois de dois anos. A motivação surgiu depois do encontro com uma ex-professora da minha época dos extintos primário e ginásio no Colégio Santa Bernadete.
Pois bem, estávamos eu e minha mulher na repartição pública. A professora – hoje funcionária do local – apresentou-me aos colegas como seu ex-aluno e um grande poeta, referiu-se que eu fazia belas poesias.
Minha mulher olhou pra mim como que diz não conhecer esse meu lado. A verdade é que nem eu me lembrava que em algum dia da minha escrevi versos poéticos. Provavelmente quis impressionar as meninas que paquerava. Minha sorte é que a professora não pediu pra recitar alguma poesia. Certamente teria dito “batatinha quando nasce...”
Passei dias intrigado com o fato de meu lado poeta ter morrido ou pelo menos ter adormecido. Fiquei ainda mais atordoado quando um professor atual perguntou-me o que matou o poeta dentro de mim. Não sei. Isso é assunto para outro post, espero.
Comecei a lembrar de outras impressões que tiveram de mim. Um cara que jogou comigo no extinto Bayern do Monte Santo disse ao meu amigo Nir que eu tinha sido o melhor atacante que ele havia jogador junto. O companheiro de ataque só jogou uma vez comigo. Talvez neste dia tudo tenha dado certo no futebol. Se ele tivesse jogado mais alguns domingos teria percebido que o jogador daquele dia era uma farsa.
E foi em outra farsa dessas que depois de uma partida pelo time da imprensa onde desandei a fazer gols fui chamado para jogar no melhor time amador de Campina Grande. Não fui. Até porque uma farsa dessas tinha me levado a outro time, onde não fiz nada e o cara que me levou recebeu inúmeras críticas.
E não é que um dia de farsa no futebol me levou a treinar no Campinense. Passei pouco tempo no velho Plínio Lemos. Fiz testes e como era de se esperar meu nome não estava na lista dos que deveriam continuar. Acabava o sonho de ser jogador de futebol.
Os exemplos do futebol deixam claras opiniões diferentes sobre a mesma pessoa. Para quem apostou na minha parca habilidade com a bola eu era um grande jogador. Para os outros que me reprovaram eu poderia seguir qualquer caminho, menos o da bola. Não sei se teria sido jogador de futebol, mas a verdade é que não tentei muito. Decidi estudar e não me frustrei por isso.
Dependendo da situação, do ambiente, assumimos posturas diferentes. Todos temos um pouco de farsantes. Como já disse aqui neste humilde espaço não dá pra ser super sincero. Vivemos numa sociedade que exige determinadas atitudes nossas. É o que Durkhein chamou no século XVIII de coerção social e que Bourdieu traduziu dois séculos depois como violência simbólica.
Quem sou eu?
Depende da ocasião.
Quando escreveu o post que leva o título da frase, DB tentou mostrar que no fundo todos nós temos um pouco de farsantes. Mesmo dizendo não entender de filosofia, o autor do post disse alguma coisa que está no Discurso sobre as Ciências e as Artes de Jean- Jacques Rousseau de 1750:
“Atualmente, quando buscas mais sutis e um gosto mais fino reduziram a princípios a arte de agradar, reina entre nossos costumes uma uniformidade desprezível e enganosa, e parece que todos os espíritos se fundiram num mesmo molde: incessantemente a polidez impõe, o decoro ordena; incessantemente seguem-se os usos e nunca o próprio gênio. Não se ousa mais parecer tal como é e, sob tal coerção perpétua, os homens que formam o rebanho chamado sociedade nas mesmas circunstâncias, farão todos as mesmas coisas desde que motivos mais poderosos não os desviem. Nunca se saberá, pois, com quem se trata: será preciso, portanto, para conhecer o amigo, esperar pelas grandes ocasiões, isto é, esperar que não haja mais tempo para tanto, porquanto para essas ocasiões é que teria sido essencial conhecê-lo.”
A referência a um grande pensador como Rousseau foi proposital. Quem está lendo este texto pode ter pensado que eu sou um grande conhecedor da obra dele. Não é verdade. O “Discurso” foi o único que li. Quis mostrar com isso que, dependendo de quem e em que nível nos conhecem as pessoas terão impressões (imagens) diferentes a nosso respeito.
Para meus ex-alunos tenho uma imagem de sério e porque não dizer por vezes chato. Quando me conhecem melhor mudam de opinião. Já ouvi alguns deles que trabalharam comigo dizerem que não imaginavam que eu era um sujeito brincalhão e perturbador (no bom sentido) do ambiente redacional. Verdade que eu gosto mesmo de tirar onda com os colegas, mas isso ocorre no dia a dia com as pessoas mais próximas.
Escrever sobre as impressões que as pessoas têm de nós não foi só para atualizar o blog depois de dois anos. A motivação surgiu depois do encontro com uma ex-professora da minha época dos extintos primário e ginásio no Colégio Santa Bernadete.
Pois bem, estávamos eu e minha mulher na repartição pública. A professora – hoje funcionária do local – apresentou-me aos colegas como seu ex-aluno e um grande poeta, referiu-se que eu fazia belas poesias.
Minha mulher olhou pra mim como que diz não conhecer esse meu lado. A verdade é que nem eu me lembrava que em algum dia da minha escrevi versos poéticos. Provavelmente quis impressionar as meninas que paquerava. Minha sorte é que a professora não pediu pra recitar alguma poesia. Certamente teria dito “batatinha quando nasce...”
Passei dias intrigado com o fato de meu lado poeta ter morrido ou pelo menos ter adormecido. Fiquei ainda mais atordoado quando um professor atual perguntou-me o que matou o poeta dentro de mim. Não sei. Isso é assunto para outro post, espero.
Comecei a lembrar de outras impressões que tiveram de mim. Um cara que jogou comigo no extinto Bayern do Monte Santo disse ao meu amigo Nir que eu tinha sido o melhor atacante que ele havia jogador junto. O companheiro de ataque só jogou uma vez comigo. Talvez neste dia tudo tenha dado certo no futebol. Se ele tivesse jogado mais alguns domingos teria percebido que o jogador daquele dia era uma farsa.
E foi em outra farsa dessas que depois de uma partida pelo time da imprensa onde desandei a fazer gols fui chamado para jogar no melhor time amador de Campina Grande. Não fui. Até porque uma farsa dessas tinha me levado a outro time, onde não fiz nada e o cara que me levou recebeu inúmeras críticas.
E não é que um dia de farsa no futebol me levou a treinar no Campinense. Passei pouco tempo no velho Plínio Lemos. Fiz testes e como era de se esperar meu nome não estava na lista dos que deveriam continuar. Acabava o sonho de ser jogador de futebol.
Os exemplos do futebol deixam claras opiniões diferentes sobre a mesma pessoa. Para quem apostou na minha parca habilidade com a bola eu era um grande jogador. Para os outros que me reprovaram eu poderia seguir qualquer caminho, menos o da bola. Não sei se teria sido jogador de futebol, mas a verdade é que não tentei muito. Decidi estudar e não me frustrei por isso.
Dependendo da situação, do ambiente, assumimos posturas diferentes. Todos temos um pouco de farsantes. Como já disse aqui neste humilde espaço não dá pra ser super sincero. Vivemos numa sociedade que exige determinadas atitudes nossas. É o que Durkhein chamou no século XVIII de coerção social e que Bourdieu traduziu dois séculos depois como violência simbólica.
Quem sou eu?
Depende da ocasião.
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