Honório não gostava de ir a velórios. Evitava ao máximo. Quando sabia que o familiar de um amigo tinha morrido desligava o celular, se escondia. Depois do enterro aparecia com uma desculpa.
- Infelizmente tive uns problemas é só fiquei sabendo hoje que sua irmã morreu. Nem tive como ir ao velório nem ao enterro. Meus pêsames.
Dessa vez não tinha jeito. Não dava pra se esconder. A mãe de Bartolomeu havia morrido.
Honório e Bartolomeu eram amigos de infância. Sabiam tudo sobre a vida um do outro. Primeira namorada, primeiro porre, primeira transa. Choravam juntos e bebiam quando um dos dois era dispensado por uma garota.
Bartolomeu não era qualquer um. Não podia deixá-lo só naquele momento.
A primeira dúvida de Honório era que roupa usar. Não tinha roupa preta porque eram desnecessárias. Nunca ia a velório mesmo. O pior era que o guarda-roupa estava cheio de camisas estampadas, estilo moda havaiana.
Mas o velório da mãe de Bartolomeu merecia comprar uma camisa preta. A calça podia ser jeans mesmo.
Problema da roupa resolvido agora era preciso pensar no que dizer ao chegar ao velório. Foi todo o caminho pensando no que falar.
- Oi tudo bem?
Não...Não. Nada podia estar bem.
Esse cumprimento estava descartado.
- Olá.
Também não. É muito seco. Impessoal demais para um grande amigo.
- Diz.
Muito pior.
- Como você está?
Pergunta imbecil. Ninguém vai responder que está bem depois de perder a mãe.
Bartolomeu, os irmãos e o pai estão em volta do caixão. Honório chega ao velório. Não diz nada. Balança apenas a cabeça para cumprimentar as pessoas.
Bartô levanta-se e o abraça chorando.
- Meu amigo estou sofrendo muito. A gente sabia que mainha tinha 99 anos. Mas esperava ela viver mais uns dez pelo menos.
Honório não tinha pensando no que dizer. Pra quem não freqüenta velório é preciso pensar em tudo antes.
Ele pensou rápido. Em segundos pensou em pelo menos três frases.
- Meus pêsames.
Não. Todo mundo diz isso.
- Bartô morrer faz parte da vida.
Horrível. Imaginou se fosse sua mãe.
- Ela passou dessa pra uma melhor.
Também não. Era arriscado ouvir: “eu queria que ela estivesse numa pior perto da gente”.
Finalmente a frase certa.
- Nada que eu disser aqui vai te confortar.
E ficou calado o resto da tarde. Como iria viajar a trabalho no dia seguinte, e Bartô sabia disso, não iria ao enterro.
À noite, depois de tomar um cafezinho decidiu ir embora. Por dentro estava alegre porque tinha enfrentado bem a situação. Não tinha cometido nenhuma gafe.
- Bartô, estou indo embora. Você sabe que amanhã viajo logo cedo.
- Eu sei. Brigado por tudo amigão.
- Que iiiisssoooo. Não poderia deixar de vir.
- Foi importante pra mim sua presença.
- Então...até a próxima.
domingo, 4 de maio de 2008
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4 comentários:
kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk
sempre tem que alguma coisa fugir do controle.
Acertou na entrad... errou e feio na saída. É assim mesmo.
abraços leo
gostei daqui!!
para quem ia atualizar uma vez por semana, hein...
kkkkk....Velório é chato, vamos combinar, mas o que é que a gente não fz por um amigo?!
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